Atleta profissional ou “jogadô”?

Não é incomum verificarmos cronistas em acalorados debates sobre a qualidade do nosso futebol. Os saudosistas insistem em dizer que o futebol de antigamente era mais bonito e prazeroso de se ver, seja ao vivo ou pela televisão.
Há uma enorme discussão, verdadeira polemica entre os amantes do futebol arte para tentar descobrir se com este ritmo atual de jogo, com o aprimoramento físico, um jogo mais corrido que jogado, craques como Pelé, Garrincha, Franz Beckenbauer, Puskas, Eusébio e etc. jogariam nos dias de hoje.

O esporte mais popular do mundo há tempos deixou de ser uma pratica de “boleiros” nos finais de semana. Nos dias atuais, não basta ser craque, tem ser um verdadeiro atleta profissional de futebol. Baladas, bebidas, cigarros e mulheres bonitas sempre fizeram e ainda fazem parte da historia dos profissionais do futebol.

Em outros tempos, a falta de profissionalismo dava abertura para talentosos jogadores sobreviverem na profissão. Era outra realidade, que privilegiava a técnica; o físico nem tinha tanta importância, pois a dinâmica era outra, completamente diferente.

Por certo, vivemos outro momento, em que o futebol alcançou um patamar muito elevado. Não é permitida a presença de curiosos, amadores e os conhecidos “boleiros”.
Quando falamos de futebol, estamos falando do maior esporte de massa do mundo. Falamos de um negocio que movimenta um volume incontável de recursos financeiros em todos os processos até que a bola comece a rolar dentro de campo. Essa máquina não pode parar simplesmente porque uma parte da engrenagem (o jogador) deixa de funcionar, simplesmente por uma bebedeira ou algumas noites sem dormir.

Obviamente, ser jogador de futebol profissional é um privilegio para poucos. Poucos conseguem. Muitos sonham em estar na mídia, ter belos salários, status. A consequência desse sucesso é o surgimento de muitos “amigos”, muitas facilidades e cobiça alheia. O resultado disso quase sempre é um desvio de conduta profissional.

Então, sugiro que os clubes, quando da formação de novos jogadores em suas respectivas categorias de base, procurem dar informações que sirvam para formar homens que possam se transformar em verdadeiros atletas profissionais a serviço de seus clubes e menos “boleiros” preocupados apenas com diversão em baladas.

Mas retomando a discussão, das diferenças do futebol antigo com muita técnica e sem muita preocupação com a preparação física, da existência de jogadores de futebol e da inexistência de atletas profissionais. Posso assegurar que, em termos técnicos, os jogadores que fizeram sucesso no passado jogariam nos dias de hoje. Jogariam por serem — exceto Garrincha —, já nas suas épocas, alem de ótimos jogadores, verdadeiros atletas do futebol. No caso especifico de Pelé, o melhor de todos, por ser atleta certamente faria o dobro de gols que fizera.

Profissional no fio da navalha!!

Não tenho conhecimento para dizer se em outras profissões também é assim, mas no mundo do futebol os técnicos já sabem que eles estão nos seus cargos sempre de forma interina. Nenhum deles pode bater no peito e falar: “aqui é meu lugar e ninguém tira”. O comum quando seus times entram em crise e não vencem nas competições é que eles estejam empregados em um dia e no outro estejam no olho da rua. Desta forma, todas as incompetências internas são descarregadas nas costas do treinador como forma de dar uma resposta para a torcida.

Não interessa o motivo e quais as razões fizeram o Coritiba mudar, se foram os números, desempenho, medo de cair para série B ou fazer média com a torcida. Entretanto, o torcedor coxa branca está eufórico com a chegada do técnico Ney Franco. Obviamente ainda tem em mente a primeira passagem do profissional pelo Couto Pereira.
Entendo que a troca se dá por dois motivos: em primeiro lugar pela péssima campanha que o time faz no inicio do brasileiro e pela surpreendente campanha que o seu rival Atlético Paranaense após a chegada do novo treinador. É inaceitável estar na zona de rebaixamento e seu rival liderando.

Como já era esperado, por ser praxe no futebol brasileiro, o que vale é o momento, são os resultados de campo que dizem se o técnico presta ou é incapaz. Assim, todo o trabalho feito pelo Marquinhos Santos no ano passado, salvando o Coritiba de ser rebaixado para a segunda divisão, agora foi descartado na lata do lixo.
Não vou entrar no mérito do trabalho realizado pelo Marquinhos Santos, ate porque não acho que o seu trabalho tenha sido de boa qualidade e não seria minha primeira opção, mesmo no ano passado. Já o critiquei varias vezes por discordar com algumas opções por ele adotadas, pela forma que se apresenta nas entrevistas e principalmente por expor em público alguns de seus jogadores.
Contudo, contratar um profissional, dar a ele a responsabilidade de tirar o time do buraco, oferecer-lhe uma possibilidade de realizar um trabalho em longo prazo e demiti-lo com cinco rodadas é uma profunda falta de inteligência, não apenas na hora da demissão, mas principalmente na contratação.

Há uma voz corrente no futebol atual que passa por planejamento. Em qualquer conversa de “boleiros”, o que se diz é que o sucesso de um time de futebol começa com a manutenção de um comando técnico. Senão vejamos a diferença de mentalidade dos nossos cartolas em relação ao escocês Alex Ferguson, treinador renomado que fez sucesso pelo Manchester United (Inglaterra). Ele foi conquistar o seu primeiro titulo depois de três anos de trabalho. Lá sim houve o chamado planejamento, o resto é tudo conversa fiada.
Marquinhos Santos pegou um time limitado no ano passado — aliás, faz tempo que o Coritiba produz elencos limitados. Ainda perdeu alguns de melhores jogadores, no caso Alex e Robinho, e as peças de reposição não deram resposta. Outros jogadores virão e agora poderão dar resultado com outro comando. E ai eu julgo ser uma tremenda injustiça com aquele que saiu.